julho 27, 2008

“Noitário” de um arquiteto solitário – 17/02/2008

Querido Noitário;

Mais uma vez na madrugada. O relógio bate 03:50h da manhã, o que pra mim é uma coincidência muito interessante, já que o sorvete que eu tomei mais cedo – ou mais tarde, depende do referencial – custou R$3,50. Coincidências a parte, penso se o pessoal que lê isto aqui realmente acredita no que está escrito, eu gostaria muito, pois é tudo verdade.

Ontem tivemos uma reunião do centro acadêmico, a penúltima antes do início das aulas, onde várias idéias foram abordadas, todas relativas. Descobri no decorrer do curso que tudo é relativo, depende de como você encara os problemas e o que eles realmente valem para você, mas prepotência minha, Einstein descobriu antes.

Ultimamente ando adotando problemas. Dentre todos posso citar o problema com “horário”, esse é fogo, nunca dá sossego. Tem também o problema com “relacionamentos interpessoais”, e esse vai perdurar pelo resto da vida, quem mandou ser Arquiteto? Podemos citar o probleminha com “insônia”, que vive andando junto com o problema de “olheiras e fadiga”, mas esses nem podem ser levados a sério tadinhos, é uma realidade para nós estudantes de arquitetura.

Gostaria que minha cabeça parasse de funcionar, pelo menos da meia-noite às 6 da manhã.

Por que o “tema” de hoje está tão desconexo? Creio que seja por estar passando pela “crise de meia idade” do curso. Início de sétimo período. Você não sabe se realmente aprendeu alguma coisa e fez por merecer durante toda a sua vida, mas já é tarde demais pra desistir e você se vê obrigado a seguir em frente. Você tem dúvidas, problemas, ocupações, idéias, vontades, sonhos..., tudo junto e misturado ao mesmo tempo num liquidificador. Não apenas os seus projetos, mas a sua vida passa a ser um “brain storm”, e aos poucos você passa a ser parte da edificação à sua volta. Seus olhos viram janelas, sua cabeça vira cobertura, seus braços e pernas apêndices da construção; onde cada célula do seu corpo quer ser um tijolinho aparente, um componente do concreto, um pilar de sustentação.

O cachorro da vizinha uiva. O barulho característico da viatura da polícia descendo a rua. Logo depois o caminhão de lixo. Solidão. Quadros e Requadros. Pensamentos dispersos numa noite sem fim. Noites sem fim. Uma tela preta ao fundo e um monte de riscos coloridos dispersos numa imensa folha sem limites. Isso me faz lembrar da música aquarela: “... numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo, e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo...”. Todo arquiteto é um poeta por natureza, um amante da música, um apaixonado pelas belas artes. Esses pequenos lapsos vão formando o grande todo que é ser um arquiteto. Um louco, um vadio, um distúrbio psicótico sempre à beira de um colapso.

O texto deveria ter acabado aqui, mas como nada do que eu escrevo é muito sério – na verdade era pra ser, mas como já foi citado, nem em momentos sérios minha cabeça para de funcionar – resolvi deixar o parágrafo de trás bonitinho e guardar a piadinhas pra depois. Vamos brincar um pouco e reescrever o parágrafo com as devidas correções.

“O cachorro da vizinha... caminhão de lixo” (explica-se o porquê não consigo dormir). Solidão (pois não tenho TV a cabo, acesso à internet e toda minha família esta dormindo). Quadros e Requadros... Noites sem fim (isto se deve ao fato de acordar “grog” e porque o cachorro, os policiais e os lixeiros ainda não morreram). Uma tela preta...sem limites (maldito AutoCad). Isso me faz lembrar... amante da música (isso inclui axé, funk e pagode, vale tudo pra conseguir ficar acordado e terminar o projeto), um apaixonado pelas belas artes (isso inclui cubismo e arte abstrata, pois só assim para os nossos “pré-projetos” fazerem sentido). Esses pequenos lapsos – de memória - vão formando o grande todo que é ser um arquiteto (Nosgudou). Um louco, um vadio, um distúrbio psicótico sempre à beira de um colapso (e essa parte dispensa explicações).

Tentando voltar a falar sério, escrever suas idéias e coloca-las abertas a críticas talvez não seja uma boa idéia e isso também é relativo. Expor suas fraquezas e deixar “a cara à tapa” nunca é uma boa estratégia, se é que seja uma. Seria bom seguirmos em frente e não deixar rastros, mas a consciência nos lembra o tempo todo que temos obrigações e não podemos simplesmente passar por cima de tudo. Talvez deixar algumas coisas pra depois e mudar os planos faça mais sentido agora. Talvez esteja realmente na hora de mudar e se admitir – por favor, sem piadinhas infames, infames piadinhas – como alguém, que tem um papel fundamental para o bem estar de todos. Talvez seja realmente a hora de deixar de pensar como estudante, e passar a pensar como profissional. Talvez.

Percebi que tenho fome, mas não sei do que.

Preciso de uma redatora.

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