julho 25, 2008

“Noitário” de um arquiteto solitário – 25/10/2007

Querido Noitário;

Após a combinação macabra de uma Fanta Tailândia (“sabores do mundo”, manga e laranja creio eu, “bonííííííííííssima”, idéia de uma amiga minha) e um “croquete” (creio eu da mesma forma, algo parecido com um disco de carne, só que não era do preto, e sim do amarelo, vide opções de escolha) antes de sair da faculdade e retornar à Goiânia, abalizada com um “upgrade” das rosquinhas de coco da vovó ao chegar em casa, fui obrigado a levantar-me às 2:00h da manhã para uma atividade real, algo normal no caso de estarmos virando noites, péssimo quando isso acontece “após” virarmos “algumas” noites.
Virar a noite (ou ‘Virada”) pode ser comparada ao sexo: se você ainda não fez, algum dia vai fazer. Para os chocados com as palavras acima tenho apenas uma coisa a dizer: quem sabe o que, já sabe, conhece, não tem problema, é normal; quem não sabe, não sabe, logo, não têm a mínima idéia e não tem porque ficar impressionado. (pausa para o “coffe break” – 15 minutos uns 300mls a menos depois) Nós, Arquitetos em formação, precisamos perder alguns dogmas, para o nosso bem e para o futuro da arquitetura que está começando agora. Foi nisso que estava pensando durante minha estadia no trono...
Nossa unidade universitária é muito carente de um monte de coisas, materiais, estrutura, professores e afins, mas isso, ainda não está bem ao nosso alcance de ser resolvido, é claro, podemos exigir, protestar, brigar e tudo mais, mas a verba, a iniciativa, o realizar, para o nosso penar, vem de cima, apenas a cobrança vem da gente. Agora, algo que não tem nada a ver com diretoria, reitoria e até mesmo coordenação, e continua em falta na nossa unidade, algo que só depende de nós alunos, e principalmente de nós alunos da FAU, são atividades culturais e “sequelados artísticos”.
Quando digo atividades culturais (pausa para o “chá das 3”- 10 minutos e +/-500 gramas a menos depois) não é apenas festas no Laboratório, não é apenas voz e violão no pátio, não é apenas as manifestações contra a reitoria (na minha opinião a melhor de todas, mobiliza todo mundo e traz uma convivência monstruosa entre todos), isso com toda certeza é muito válido, mas não é só isso, é realmente fazer atividades que englobem várias coisas, como dança, teatro, pintura, canto...e por aí vai. Quando o C.A.C.A.U. Unicidade entrou se propôs a fazer isso, criar vínculos com a comunidade estudantil e fazer este tipo de atividades, mas devido a organização da Semana de Arquitetura isto ainda não foi possível, logo, a iniciativa deve partir de todos os alunos da FAU, e dos outros cursos também, quanto mais gente trouxer idéias, mais e melhores serão os possíveis eventos a serem realizados, a participação de todos em todas as atividades é imprescindível.
Quando digo “sequelados artísticos” (que foi onde tive a idéia de escrever em você, noitário), é literalmente o que se lê: sequelados, surtados, lunáticos, pirados, doidinhos, chamem do que quiser. São eles que geralmente trazem as melhores idéias, e são eles que geralmente fazem as coisas acontecerem, cada um na sua área é claro. Nós da arquitetura, precisamos literalmente de sequelados artísticos, pessoas que choquem realmente a universidade. Mostras de CVAU 2, positivo. Exposição de trabalhos, positivo. Mas... cadê a iniciativa dos alunos? Onde estão os futuros arquitetos, que muitas das vezes passam por tudo isso, olham e dizem: “legal”. Não fazem uma análise crítica, não fazem um comentário decente, muitas vezes também apenas criticam negativamente, sem nem mesmo entender o que se passa. E... nós vamos ficar fixados apenas nisso, arquitetura? Nós arquitetos vamos ficar restritos a isso, arquitetos? Ninguém tem encéfalo e polegar opositor suficiente pra sair da mesmice e fazer algo diferente? Não pretendo passar 5 anos da minha vida numa universidade e simplesmente “passar por ela”, não vivenciar, não acreditar que todos podemos fazer algo a mais. É... está faltando Guaraná Antártica pra galera...(isso me lembrou a Fanta, ‘guenta ae” que vou ali “tomar um ar”) (“...minutos depois...” - voz de locutor de desenho do Batman) .
Essa falta de sequelados nos mostra a falta de comunicação, o “déficit criacional”, o medo de “pagar mico”, de se expor para a universidade, para o mundo. Não é assim que devemos ser. Se alguém canta bem, porque não vai lá e canta? Se alguém tem idéia de uma apresentação teatral, porque não grita no meio do pátio, chama o pessoal e expõe o seu trabalho, que você com certeza passou horas criando e trabalhando pra ser aquilo que você gosta? Vamos continuar com medo de mostrar as idéias que temos? Muito do que existe hoje e do que é reconhecido hoje começou assim, com críticas, com risos debochados, com piadinhas e bochechas vermelhas, mas depois, muitos se calaram e deram o braço a torcer para os “doidinhos que não tinham mais o que fazer”.
Deixo aqui então a minha idéia a quem possa interessar...SEJAM. Existe um termo muito utilizado por muitas pessoas, mas que talvez não seja do conhecimento de todos: “Botar pra Jambrar”. Botar pra jambrar pode ser traduzido com “fazer acontecer”. É isso que temos que fazer, botar pra jambrar, é por o negócio pra funcionar (não leiam com duplo sentido, ou triplo, ou quádruplo...), é realmente por em prática as idéias e se tornar mais um “King Kong” universitário. Fazer uma grande apresentação, juntar muita gente, fazer um festival universitário de artes, englobar os pequenos grupos que já fazem algo assim, e virar um grande grupo, algo reconhecido, algo de respeito, que pode vir a gerar grandes nomes. Muitos dos profissionais da “mídia“ (escritores, músicos, dançarinos, cantores...) hoje, não se formaram em letras, música, artes cênicas e afins...são arquitetos, engenheiros, biólogos, farmacêuticos, químicos, matemáticos e afins que levantaram uma noite, após uma Fanta (mas acho que a culpa está no croquete, eu sinto isso...) e resolveram botar pra jambrar, é nisso que acredito e gostaria que todos pelo menos pensassem sobre o assunto.
Bem, acho que após os dois desabafos (entendam como se deve ser entendido), posso ir dormir tranquilamente (será?), e acordar amanhã para mais um dia “dessa existência maldita nesse sertão desgraçado” (retirado da música Rap da Roça, do Kaquinho Big Dog).
Finalizo meu depoimento a você amigo de todas as noites, com um pequeno poeminha que aprendi nos idos do século passado, mais ou menos pela 3º série, e que com toda certeza é do conhecimento de todos: “quando sento no vaso, sinto uma emoção profunda, a #$%&* bate na água, e a água bate na @#$%&”. Apesar do caráter cômico, reflita.

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